quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Doms fracos/fakes: Relatos de uma escrava iniciante e frustrada.


Nos últimos 4 dias eu tenho conversado com muitos homens que se dizem Dominadores. São "Donos", "Doms", "Mestres", "Senhores" e outros títulos diversos. Todos muito abertos e solícitos com escravas iniciantes, cheios de certezas e determinação.

Alguns deles, depois de um início de conversa tranqüilo, começaram a me tratar por "cadela". Até aí, tudo bem, pois ser uma cadela parece bastante divertido. Quando um deles começou a me tratar por "inútil", comecei a pensar no automatismo e ignorância no meio BDSM.

Muitos dos mestres com os quais conversei via fetlife, msn, orkut e e-mail me passaram uma impressão muito ruim. Eles me pareciam outsiders baunilhas que escondiam sob uma "patente" ou "título" de Mestre uma enorme insegurança e medo. E se uma escrava não sente segurança num Dom, ela não conseguirá se soltar e realmente aproveitar a relação de dominação.

Aliás, o que muito me preocupou foi exatamente a impressão de que esses Doms usavam o "título auto-aplicado" de Mestre para agir como uns perfeitos idiotas, acreditando que o prazer do Dom é prioridade sobre o prazer do escravo. Não, não é. O bom Dom deve não só se importar com o prazer da escrava, como também saber como ajudar a escrava a atingir o prazer e explorar seus desejos mais extremos e obscuros. Cabe ao Dom dar as ordens, e isso cria uma responsabilidade de saber qual ordem dar. Displicência e descuido são muito diferentes de Dominação e autoridade.

Vi muita gente usando a sigla SSC (Sã, Segura e Consensual). Me pergunto até que ponto isso não é só uma macaquice: repetem SSC sem de fato se questionar acerca do sinificado de tal sigla.

Um dos "Mestres" (o mesmo que me chamou de "inútil", poucos minutos depois de iniciada uma conversa no MSN) me causou enorme espanto: após uma conversa no MSN, o dito "Mestre" insistiu tanto para que eu dissesse que eu era escrava dele, ignorando meus avisos de que aquilo era uma conversa inicial e não uma negociação, que eu perdi a paciência completamente e fiz o que escrava nenhuma sente desejo em fazer: apontei os erros do dito "Mestre", que vergonhosamente se dobrou frente a mim cheio de explicações inconclusivas.

É patético um "Mestre" querer fechar uma negociação depois de uma conversa. A impressão que passa é que eles são homens frustrados com a sexualidade de baunilha, desesperados para "apimentar" suas noites mas sem desejo nenhum de levar a prática BDSM a sério, com segurança, sanidade e de forma consensual.

O "título" de Mestre não pode ser reduzido a uma excelente desculpa para um homem que quer transar desesperadamente mas não quer pensar no prazer da parceira. Não pode servir para esconder o medo que o dito "Mestre" sente, esconder a insegurança dele.

Esses ditos "Mestres" lidam com inúmeras iniciantes. Ouvi muitas reclamações de "Mestres" se queixando que suas escravas são indisciplinadas, que não partem para a prática real, que desistem logo depois dos primeiros contatos. Fico me perguntando se esses ditos "Mestres" realmente acreditam que o problema está nas escravas. E, como submissa iniciante que deseja levar a prática do BDSM a sério mas não consegue encontrar um Dom que passe segurança, creio que essas "escravas indisciplinadas e fujonas" sejam nada mais do que ótimas escravas iniciantes, que têm bom senso suficiente para pular fora quando não sentem segurança no dito "Mestre".

Como escrava iniciante, escrevo esse texto para alertar aos praticantes sérios , aos Doms que treinam iniciantes e aos Doms que estão iniciando agora, a impressão exata que uma iniciante séria tem ao entrar nas comunidades do orkut e demais fóruns de discussão que experimentei. Sei que muitos interpretarão como insolência, falta de respeito ou de modos, mas acho que isso não passa de confirmação das denúncias que aqui faço. Doms sérios e responsáveis não vão se doer com as minhas críticas, por segurança. Doms iniciantes, mas que levam com seriedade o aprendizado, verão no meu relato uma valiosa ferramenta para mudar atos impensados e se comprometer de forma mais intensa com a prática e dedicação ao BDSM.

Só ando com medo de que chegue um dia que nós, submissas sérias e questionadoras, tenhamos que treinar nossos próprios Doms iniciantes!